
Presentamos en la Revista Trasdemar una selección poética de nuestra colaboradora Gaëlle Istanbul (Bósforo do Reno, 1972) Poeta residente en Ilha Terceira (Açores) Compartimos la publicación en nuestra sección “Macaronesia” y en su idioma original, con motivo del Día Internacional de la Lengua Portuguesa 2022
Deita-te debaixo da minha sombra
Deita-te debaixo da minha sombra
e observa:
a cor nula
a pele ausente
a carne inútil
vê
como a sombra preenche
e mancha.
Deita-te debaixo da minha sombra
mas não sucumbas
ao que em mim se esvai.
Futuros Amantes
O estacionamento de bicicletas
De Breslau marcava o tempo.
Rosas do vento em bicos-de-pé
[inédito]
Ao Pedro da Silveira
Lengalenga de Outono
Uma vez azul, outra violeta
verde
e verde sempre
terra castanha e lava preta
Silêncio e chuva
depois o vento
E o tormento
da sua gente
Pres’à corrente
…
[inédito]
Contraciclo
A ilha é um plágio de todo o mal que existe no mundo. É bom escrever
livremente. Nunca soube ser monacal.
O barco resiste e afasta-se do
traçado das marés.
Gaëlle Istanbul
Ilha das Flores, Açores, 2021
[inédito]
Profanação
Um almirante vermelho
preso num bocal
a escorrer sangue pelas asas
num voo horizontal
camuflagem
partículas de sombra e sonho
nascidas em oceanos florestais.
O amor também finta as borboletas
tanto quanto
os dias cortam as feridas
uma e outra vez nos sertões
semi-circulares de vidro espesso.
Chamar a solidão para uma
transparência é um acto criminoso.
O pior é extraviar-se o impossível
ele que com
as suas antenas
deu à luz desencarcera.
[inédito]
O Incêndio
Sobraram os primeiros esboços
do que somos
após teres activado o lança-chamas.
Salvaram-se dois esquissos:
o nosso filho e eu
E tu feito prisioneiro no último
dia da guerra e nado-morto
enquanto nós morremos primeiro
e após um tempo
fomos desempoeirando as cinzas do corpo
e ganhando cores e traços de ouro
como nos quadros de Klimt.
[inédito]
Agradecemos a la autora la cesión de sus textos inéditos para nuestra Revista